Nos últimos anos, tivemos algumas mortes de famosos relacionadas à dependência química e à depressão. No Brasil, em 2013, o cantor da banda Charlie Brown Jr., Chorão, morreu de overdose e seu colega de banda, Champignon se suicidou alguns meses depois. Já nos Estados Unidos, em 2014, os mundialmente conhecidos atores Philip Seymour Hoffman e Robin Williams também tiveram suas mortes associadas à dependência química e depressão.
O Blog Similia Homeopatia e Saúde volta a esse assunto para tentar explicar a associação entre essas duas doenças: dependência química e depressão. E, principalmente, mostrar a luz no fim do túnel para quem ama alguém que precisa de tratamento.
Saber o que vem primeiro, se a dependência química ou a depressão, remete à um reclame de biscoito antigo: “vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais”.
As drogas podem ser o meio de “não lidar” com a depressão, de aplacar a dor e encontrar o bem-estar. Porém, como esse bem-estar vem de fora, passa com o fim do efeito da droga; e a dor, a depressão voltam. Então, o usuário precisa de mais droga, tornando-se dependente dessa substância.
Já quando a pessoa não sofre de depressão e, mesmo assim, começa a usar algum tipo de entorpecente, passa por um momento de lua-de-mel. Depois vem a negação dos prejuízos, até que o indivíduo, não tendo mais como negá-los, os enxerga. Neste momento, surgem a culpa e o remorso que evoluem com depressão.
Para Dra. Daniela Benzecry, médica homeopata e especialista em tratamento de dependentes químicos, um discurso comum apresentado entre adictos em recuperação é que eles têm medo de viver. “Há um medo negado, isto é, inconsciente, de viver. Este seria o fator comum, se não para experimentar as drogas, para permanecer usando-as.” Dra. Daniela também explica que alguns autores de renome que escreveram sobre esse tema mencionam o desejo de permanecer sentindo-se bem na base da adicção. “Cito o autor analista Luigi Zoja, ‘tornam-se dependentes homens que não sabem aceitar a vida, na qual não se pode evitar as dores’. E, parafraseando André Malraux, ‘voltam-se para as drogas homens que não podem aceitar a condição humana’”.
O tratamento
A dependência química e a depressão, assim como qualquer outra doença crônica pode ser tratada com homeopatia. Porém deve-se observar que o uso de medicamentos homeopáticos aumenta o contato consigo mesmo, ou seja, leva a conscientização da situação. E como usar a droga é a fuga da realidade, mais do que indicada, a terapia é essencial para o tratamento de um adicto. “Os medicamentos podem ajudar, podem causar náuseas e aversão à droga, mas não interferem no livre arbítrio, ou seja, não fazem querer parar. Um medicamento homeopático pode, por exemplo, causar náusea e aversão ao cigarro, porém, se o indivíduo não estiver realmente querendo parar de fumar, ele desiste do tratamento para optar pelo cigarro. Há terapias para ajudá-lo a querer parar. Existem vários tipos de terapias, cada qual com a sua indicação”, como explica Dra. Daniela.
A homeopatia além de tratar da pessoa da dependência, pode ser um bom recurso para tratar os sintomas da abstinência, da fissura (tanto prevenindo-a, quanto aplacando-a), dos efeitos orgânicos do uso crônico das drogas e dos efeitos mentais.
Outro ponto importante destacado pela Dra. Daniela, é que o adicto usa as drogas para “resolver” o que está sentindo e ficar bem e termina por alienar-se de si mesmo. Isso é exatamente o oposto do que faz o tratamento, principalmente o homeopático, daí deve-se ter cautela na prescrição do medicamento e o tratamento adjunto com a alopatia pode ser um auxiliar, em alguns casos, para a passagem para a vida sem drogas, enquanto a pessoa se fortalece para viver.
A médica conta relatos de pacientes que ilustram essa equação: “Não tomei o medicamento prescrito, embora o tivesse, pois ele me dá vida, fico bem, mas temo ficar bem e ter de assumir a minha própria vida e perder os mimos dos irmãos”; “Não quero viver entorpecido, quero viver, mas viver dá medo. Não sei viver bem, nunca vivi bem”; “O medicamento me faz sentir bem, mas como estar bem é sensação que nunca experimentei, é nova, me dá medo. Na primeira vez, passei mal por estar bem, não sabia o que era, seria a morte, o nirvana? Senti o coração normal, mais lento, sem pressão na nuca, respirando, me assustou, deu medo de morrer, aí passei mal por estar bem. Realmente, tenho de experimentar o bem estar devagarzinho”; essas são algumas das frases ditas em consulta homeopática à Dra. Daniela.
Internar ou não internar?
A internação não é o tratamento em si, pois como toda doença crônica o tratamento é longo, se não, para a vida toda. Mas alguns casos são tidos como importantes para início do tratamento. São casos indicados para internações principalmente os citados abaixo:
– Quando se põe a vida (sua ou de outros) em risco.
– Quando não consegue ficar abstinente no tratamento ambulatorial, ajudando a aderir a ele.
– Dependência química grave (grande compulsão com uso constante e pesado).
– Considerável nível de desorganização social do indivíduo e a necessidade de aprender habilidades sociais mínimas
– Casos de desestabilidade psiquiátrica (até estabilizar)
“Quanto ao tempo de internação, alguns estudiosos tendem a defender a de curto prazo por acreditarem que as mudanças se consolidam no próprio ambiente da pessoa. Outros defendem a longo prazo, acreditando que a pessoa só deve sair após começar a trabalhar os seus conflitos internos e iniciar a transformação íntima, a mudança no seu modo de ver a vida com renovação dos valores”, explica a especialista.
A internação voluntária é sempre preferível, mas se for necessária a internação compulsória – defendida pelos que acham que o adicto não tem como decidir por si só – acredita-se que se bem conduzida, tem o mesmo resultado da voluntária.
A Família e a Sociedade no Tratamento de um adicto
O tratamento de um adicto é o tratamento de todo seio familiar e social que ele se inclui. Muitas vezes a causa que leva a fuga tem origem familiar ou social; por isso é muito importante que a família tenha consciência que pode estar funcionando como facilitadora para a adicção, principalmente assumindo responsabilidades que seriam do dependente químico e, assim, reduzindo suas perdas, que são importantes para ele querer parar de usar drogas.
Outro processo comum durante o tratamento – e que, muitas vezes, tem uma interferência negativa da família no processo – é quando, percebendo sua situação de volta ao mundo, a família do paciente em tratamento expõe ressentimentos de situações causadas pelo adicto ou manifestam a ausência de confiança nele. Além disso, com o membro familiar que sempre deu problema, em tratamento, ele deixa de ser o bode expiatório para todos os males do núcleo familiar. “A família pode estar contribuindo para a perpetuação dele como adicto. Incluir a família ajuda a ela vir a contribuir e apoiar ao adicto na sua recuperação, a qual costuma ser melhor quando a família participa e apoia. De qualquer forma, a família merece um tratamento independente de seu adicto querer ou não se tratar, pois ela também está adoecida e sofre. E porque, se não for tratada, seus membros tendem a formar novos lares em que a adicção estará presente.“, finaliza a Dra. Daniela.
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