A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é um tema muito atual, de suma importância na medicina, sobretudo na pediatria e na imunologia, justamente porque é o tipo mais comum de alergia alimentar em bebês de até dois anos de idade e o número de casos tem aumentado consideravelmente por causas ainda em estudo.

Entretanto, é um tema que desperta muitas dúvidas nos familiares, em termos de diagnóstico, abordagem, manejo dos casos e principalmente: como descomplicar e orientar a vida da família que tem um bebê com APLV.

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Qual a diferença de APLV e intolerância à lactose?

A intolerância à lactose é a dificuldade de digestão de um AÇÚCAR, presente no leite, chamado lactose.

Ela acontece porque há falta da enzima responsável pela digestão desse açúcar, a lactase. Porém, a intolerância à lactose é um fenômeno mais frequente em adultos, pois a produção de lactase diminui com a idade e, claro, a quantidade de lactase produzida varia muito de uma pessoa para outra.

Outro aspecto importante quanto à intolerância é que ela é dose-dependente, ou seja: quanto mais lactose o indivíduo consumir, mais sintomas ele terá. Isso não exclui a possibilidade de um bebê ter intolerância à lactose, mas é um quadro menos frequente.

A APLV, no entanto, é uma doença imunológica, causada pela hipersensibilidade à PROTEÍNA do leite de vaca (caseína, lactoalbumina e outras) e pode ser mediada ou não por IgE.

Essas proteínas têm peso molecular alto e, justamente por isso, têm potencial alergênico, assim como ocorre com o amendoim, soja e frutos do mar.

É predominante na faixa etária pediátrica e não depende de dose, ou seja, TRAÇOS de leite (quantidades ínfimas) podem desencadear quadros graves, evoluindo até mesmo para anafilaxia. Sim, a APLV pode levar à anafilaxia e merece devida atenção.

O diagnóstico da APLV é essencialmente clínico. Portanto, uma boa anamnese e um exame físico detalhado são fundamentais.

As APLV mediadas por IgE se manifestam imediatamente até 2h após a ingestão do alérgeno, enquanto as não mediadas por IgE podem demorar até 7 dias para manifestar.

Sinais e Sintomas

São muitos os sinais e sintomas da APLV, porém, alguns são muito frequentes quando se trata da descoberta da doença porque são sintomas que preocupam e assustam os pais, como o sangue nas fezes e o edema de glote, por exemplo.
SISTEMA SINAIS/SINTOMAS
Gastrointestinal Sangue nas fezes, vômitos, diarreia, síndrome de má absorção, dor abdominal, desconforto.
Respiratório Congestão nasal, prurido, edema de glote, sibilos generalizados, tosse, dispneia.
Cutâneo Urticárias, exantemas, angioedema, prurido.
Neurológico Sonolência, rebaixamento do nível de consciência, convulsões.
Oral Edema de língua, lábios e até palato.
Cardiovascular Hipotensão, arritmia, choque.

Exceto raros casos em que a APLV se manifesta mesmo durante a amamentação materna exclusiva, os bebês APLV costumam se apresentar hígidos durante a AME, ganhando peso normalmente, hábito intestinal dentro do esperado, sem qualquer queixa.

As manifestações se iniciam quando esse bebê começa a ingerir leite de vaca e derivados, ou a mãe inclui fórmulas para complementação.

Portanto, diante de uma história favorável à APLV com sinais e sintomas ao exame físico, a primeira medida a ser tomada é RETIRAR 100% o leite de vaca e derivados da dieta, tanto da criança como da mãe.

Como tratar essa doença?

A primeira medida é a exclusão do alérgeno da dieta, que consiste na fase 1 do manejo/condução da APLV.

A boa notícia é que, na maioria dos casos, ocorre a tolerância oral ao alérgeno com a passagem do tempo, mostrando excelente melhora do quadro e não havendo quaisquer manifestações na vida adulta.

Portanto, a fase 2 consiste justamente em INCLUSÃO por etapas e muito bem monitorada de doses cada vez maiores de leite. Nos casos de APLV IgE mediada, essa fase deve ocorrer sob supervisão médica e em local adequado para atender qualquer manifestação grave anafilática.

Em resumo, a APLV é uma doença completamente diferente da intolerância à lactose, tem origem imunológica e pode se manifestar com uma grande variedade de sinais e sintomas, em diversos sistemas.

Hoje, a oferta de tratamento e manejo da doença é maior, com a possibilidade de uso de fórmulas infantis de boa qualidade e suporte farmacológico.

É importante que a família seja bem orientada pelo pediatra e, se possível, que haja acompanhamento com nutricionista para evitar possíveis carências nutricionais.

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